O título da nossa coluna de hoje parece um tanto contraditório, mas eu explico melhor: nesta semana, a minha equipe fez o controle de um caso bastante interessante, em que colocamos implantes inclinados na região posterior de mandíbula, para manter os dentes naturais anteriores. Eu possuo muitos casos neste estilo e, todas as vezes que eu faço controle nesses pacientes, fico pensando em como ainda é possível se manter dentes usando os recursos que a Implantodontia nos oferece. A figura 1 mostra a tomografia do caso para o planejamento cirúrgico.
Em um primeiro momento, quando nos deparamos com situações clínicas como essa, seria leviano da minha parte dizer que não se pensou na exodontia de todos os dentes e a realização de duas próteses protocolos. Obviamente que eu pensei nisso, mas o meu vício periodontal não me deixou caminhar para esta solução e me levou a tentar preservar o máximo de dentes que fosse possível. Optamos, então, pela restauração dos dentes superiores e pela colocação de implantes na região posterior de mandíbula com a exodontia dos dentes 34 e 44 (Figura 2 e 3)
A inclinação proposital dos implantes colocados na região posterior de mandíbula propiciou a reabilitação do caso com uma arcada dental mais reduzida e que preservou os dentes anteriores remanescentes. (Figuras 4, 5 e 6).
Todas as vezes que eu apresento casos como este nas minhas palestras, eu sinto uma parte da plateia se revirar nas cadeiras. Isto ocorre porque muitos colegas indicariam um protocolo em carga imediata para situações como esta. Acredito que realizar um protocolo em uma situação desse porte estaria igualmente correto. Não vejo problemas em se realizar protocolos em casos mais extremos. Contudo, como abordei no início desta coluna, o meu vício periodontal de manter dentes me consome.
Ao longo dos últimos 30 anos, eu venho trabalhando com implantes e realizando muitos protocolos. Não foram poucos os casos em que eu escutei dos meus pacientes que eles se sentiam arrependidos por terem extraído os dentes e se sentiam desconfortáveis com a nova prótese. Isto ocorre porque, para quem ainda tem dentes remanescentes em um estado razoável, a exodontia total e a colocação de uma prótese total (protocolo) fixada em implantes, causa uma mudança radical na boca e a adaptação a esta nova realidade pode demorar muito tempo e nunca ocorrer totalmente.
Sendo assim, eu vejo com bons olhos a colocação de implantes em regiões que visam preservar os dentes remanescentes dos pacientes. O caso mostrado aqui preservou os 6 dentes anteriores do paciente, o quais ele pode ter o conforto de passar o fio dental de maneira convencional e ter um perfil de emergência natural, oriundo da gengiva e não de porções de acrílico. Além disso, se houver problemas com os dentes remanescentes deste paciente, ele poderá colocar mais implantes, mantendo o trabalho que já foi feito.
“Mas vocês são a raça escolhida, os sacerdotes do Rei, a nação completamente dedicada a Deus, o povo que pertence a ele. Vocês foram escolhidos para anunciar os atos poderosos de Deus, que os chamou da escuridão para a sua maravilhosa luz. Antes, vocês não eram o povo de Deus, mas agora são o seu povo; antes, não conheciam a misericórdia de Deus, mas agora já receberam a sua misericórdia.” (1 Pedro 2: 9-10)
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Instagram: @marcoaureliobianchini | @bianchini_odontologia