O titânio dá indigestão?

titânio
Em sua coluna semanal, Paulo Rossetti comenta os efeitos das partículas de titânio e sua possível relação com a peri-implantite.

Para fechar o raciocínio dos meus posts anteriores sobre titânio e metais, ainda preciso atualizar os leitores sobre as “partículas de titânio”.

  1. Todos sabem que próteses de quadril são necessárias e usadas por diversos motivos e que, em muitos pacientes, é necessário fazer a revisão destas peças. Entretanto, a descrição histológica da falha asséptica (Appel et al. Brit J Rheumatol 1990) mostra uma pseudomembrana com características de corpo estranho e fatores que sinalizam a reabsorção óssea. E onde estavam estas partículas de titânio? Dentro dos osteoblastos, as células que fazem osso. Guarde comigo este fato simples: osteoblastos produzem um sinal chamado RANKL. Osteoclastos tem a contraparte: RANK. Quando o par RANKL/RANK está ativado, o osteoclasto vai digerir a matriz óssea. Mas alguma coisa precisa provocar o osteoblasto para ele liberar o RANKL. Seriam as tais “partículas”?
  2. Muitas lesões de peri-implantite são tratadas removendo as espiras dos implantes. Óbvio, além do aquecimento e do sangue, “partículas” de titânio estarão na periferia cirúrgica. Isto “traria” mais peri-implantite?
  3. Já sabemos que o titânio não é inerte. Considerando o tamanho micrométrico do osteoblasto, é mais lógico “comer” uma partícula de titânio do que um implante completo (ex., 10mm). Mas esta digestão provocaria “dor de barriga” nos osteoblastos, gerando a tal da reabsorção óssea?

Em 2005 (doi/10.1073/pnas.0500693102), um estudo laboratorial comparou o efeito do tamanho dessas partículas sobre osteoblastos. Em alguns grupos (I e II), as partículas foram internalizadas (fagocitadas). Então, em laboratório, o tamanho fez a diferença.

Em 2018, uma revisão sistemática (DOI: 10.1111/clr.13372) avaliou a origem, presença, características e localização das partículas de titânio em relação aos implantes dentários. Onze estudos foram realizados em seres humanos com biópsias peri-implantares (2 séries de casos, 1 relato de caso, 1 caso-controle, 1 transversal, 4 prospectivos, 2 retrospectivos). Houve sete suspeitas de liberação por corrosão, 2 por desgaste na interface implante-pilar, 1 por inserção do implante e 1 não-identificada. O tamanho destas partículas em seres humanos variou de 0,1 µm até 54 µm. As partículas de titânio estiveram em maior número ao redor dos tecidos afetados do que nos tecidos sadios.

Tenha uma boa refeição!

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