Sondagem da região de furca

sondagem furca

Uma das manobras mais importantes que um clínico deve dominar é a sondagem periodontal na região de furca das raízes de molares e pré-molares. Uma atenção especial deve ser dirigida para se detectar crateras interdentais com envolvimento da furcação radicular destes elementos dentais. Preferencialmente, uma sonda específica deve ser colocada obliquamente em ambas as superfícies vestibular e lingual, para examinar o ponto mais profundo da possível bolsa periodontal existente nas regiões de furca1.

A melhor maneira para se detectar uma lesão de furca é com o uso de sondas especialmente desenhadas para essa finalidade, como a sonda de Nabers número 2, que permite uma exploração mais apropriada1-4. A figura 1 ilustra uma sonda de Nabers número 2.

Figura 1 – Sonda de Nabers número 2, específica para sondagem de regiões de furcação. Observar as curvaturas deste instrumento com marcações a cada 3 milímetros (totalizando 12 mm de inserção), que visam identificar o grau de destruição periodontal nas regiões de furca de dentes multiradiculares.


Uma vez utilizada a sondagem periodontal da região de furca, com a sonda específica de Nabers número 2, deve-se estabelecer uma classificação para verificar o grau de severidade da destruição periodontal nestas áreas. A classificação mais utilizada para a região de furca ainda é a classificação preconizada por Goldman e Cohen em 19585,6, que avaliava a intensidade das lesões de furca conforme a perda óssea horizontal:

Classe I – a lesão se estende até 3 mm ou até um terço da largura do dente;
Classe II – a lesão encontra-se acima de 3 mm, mas não passa completamente de uma abertura de furca para outra;
Classe III – a destruição estende-se pelo comprimento total da furca, com passagem do instrumental entre as raízes.

A figura 2 ilustra a definição das lesões de furca graus I, II e II com a sondagem específica delas, levando-se em consideração apenas a destruição óssea horizontal.

Figura 2 – Classificação horizontal dos envolvimentos de furca através da sondagem específica com uma sonda de Nabers número 2. A – Lesão de Furca Grau I, menos de 3 mm de perda de fixação horizontal. B – Lesão de Furca Grau II, mais de 3 mm de perda de fixação horizontal, mas não completamente. C – Lesão de Furca Grau III, perda de fixação horizontal na região de furca com mais de 3mm atravessando o dente de uma face a outra.


Apesar desta classificação de lesões de furca ser bastante didática, não é possível utilizar uma classificação orientada somente por padrões de perdas ósseas horizontais, uma vez que as perdas verticais vão também estar sempre presentes, mesmo que menos intensas. Assim, em 1984, Tarnow e Fletcher7 elaboraram um complemento da classificação horizontal dos defeitos de furca, levando em consideração também as perdas verticais.

Esta classificação adicional de Tarnow e Fletcher de 19847 convencionou que para cada classe de classificação horizontal de Goldman e Cohen5,6 seria adicionada uma subclasse baseada na reabsorção óssea vertical da furca:  

Subclasse A – denota envolvimentos de furca com perda óssea vertical de até 3 mm;
Subclasse B – engloba defeitos de furca maiores do que 3mm, que vão até 6 mm;
Subclasse C – apresenta perda óssea de 7 mm ou mais.

A figura 3 explica essa subclassificação dos defeitos de furca verticais. 

Figura 3 – Classificação vertical dos envolvimentos de furca. A – Subclasse A denota envolvimentos de furca com perda óssea vertical de 3 mm ou menos. B – Subclasse B denota envolvimentos de furca com perda óssea vertical maiores do que 3mm (de 4 a 6 mm). C – Subclasse C denota envolvimentos de furca com perda óssea vertical de 7 mm ou mais.


As perdas de inserção periodontal e infecções nas áreas de furca representam um problema terapêutico por serem difíceis de limpar, tanto para o profissional como para o paciente. Além disso, o tipo de tratamento para as lesões de furca depende muito da extensão da destruição tecidual causada pela infecção e nem sempre as técnicas regenerativas conseguem resultados satisfatórios nestas áreas. Desta forma, a maioria dos clínicos prefere condenar dentes com lesões de furca graus IIB, IIC, IIIB e IIIC.

A sondagem correta das regiões de furca, associadas as imagens radiográficas e grau de mobilidade do dente, nos darão um diagnóstico mais preciso da extensão destas lesões. A tomada de decisão em se manter ou extrair um dente com lesão de furca passa pelo potencial regenerativo do defeito (geralmente classes IA, IB e IIA) e a capacidade do paciente em manter limpa estas áreas após a terapia.

Referências

  1. Greestein G: The role of bleeding upon probing in the diagnosis of periodontal disease. A literature review. J Periodontol 1984;55:684.
  2. Zangrando MS, Damante CA, Sant’Ana AC, Rubo de Rezende ML, Greghi SL, Chambrone L. Long-term evaluation of periodontal parameters and implant outcomes in periodontally compromised patients: a systematic review. J Periodontol. 2015 Feb;86(2):201-21. doi: 10.1902/jop.2014.140390. Epub 2014 Oct 2.PMID: 25272977
  3. Bittencourt, M da SP, Figueredo, CM da S, Fischer, RG. A influência do tratamento periodontal não cirúrgico sobre células sangüíneas, perfil lipídico e glicemia de pacientes portadores de periodontite crônica. R. Ci. méd. biol., Salvador, v. 3, n. 1, p. 60-68, jan./jun. 2004.
  4. Caton JG, Greestein G, Polson AM: Depth of periodontal probe penetration related to clinical and histologic signs of gingival inflammation. J Clin Periodontol 1987; 14:226.
  5. Henry M. Goldman, m.d.* and D. Walter Cohen, d.d.s.** The infrabony pocket: classification and treatment. J Periodontol 1958: 29: 272.
  6. MARIANO SANZ, KARIN JEPSEN, PETER EICKHOLZ & SØREN JEPSEN. Clinical concepts for regenerative therapy in furcations. Periodontology 2000, Vol. 68, 2015, 308–332
  7. Tarnow D, Fletcher P. Classification of the vertical component of furcation involvement. J Periodontol 1984: 55: 283–284

Já era quase meio-dia, e, escurecendo-se o sol, houve trevas sobre toda a terra até as três horas da tarde. E o véu do santuário se rasgou pelo meio. Então Jesus clamou em alta voz: — Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou. O centurião, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: — Verdadeiramente este homem era justo. E todas as multidões reunidas para aquele espetáculo, vendo o que havia acontecido, retiraram-se, batendo no peito. (Lucas 23:44-48)

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