Qualquer implantodontista ou periodontista que se depara com um título de artigo abordando a terapia de suporte, acaba nem lendo o conteúdo, pois já sabe que a conclusão será a mesma de sempre: os tratamentos periodontais e peri-implantares devem ser sempre acompanhados de uma terapia de manutenção, para controle do biofilme e de outros fatores que possam vir a prejudicar o sucesso do tratamento no longo prazo. Contudo, mesmo sabendo da importância desta terapia, muitos profissionais ainda não conseguem estabelecer um protocolo que realmente funcione, para a manutenção dos pacientes que tiveram peri-implantite ou mucosite.
A terapia de suporte na Implantodontia, assim como na Periodontia, tem como objetivo a manutenção da homeostasia dos tecidos peri-implantares, alcançada com o tratamento que foi realizado, prevenindo a recorrência ou a progressão da mucosite e da peri-implantite. Ela se inicia imediatamente após a conclusão da terapia ativa (tratamento propriamente dito), em que o risco individual do paciente é avaliado e determinado o intervalo necessário entre as consultas de manutenção.
Um artigo do periódico Periodontology 2000, publicado agora em 20221, relatou que evidências científicas substanciais mostram que a ausência de cuidados de suporte está associada a uma frequência significativamente maior de locais com sangramento da mucosa peri-implantar, aumento dos valores de profundidade de sondagem, reabsorção óssea alveolar e perda do implante. Da mesma forma, cuidados de suporte menos frequentes mostraram estar correlacionados com uma maior prevalência de mucosite, peri-implantite e taxas mais altas de perda de implante.
Mesmo sendo um procedimento bastante conhecido na Periodontia, a terapia de suporte continua em alta como forma de complementar o tratamento das alterações peri-implantares e prevenir a perda precoce de implantes. Uma revisão sistemática recente2 indicou que o tratamento da peri-implantite, seguido de cuidados de suporte regulares, resultou em uma alta sobrevida cumulativa dos implantes (de 76% a 100% em cinco anos, e de 70% a 99% em sete anos), com níveis ósseos peri-implantares estáveis na maioria dos pacientes.
Desta forma, a maioria dos grupos que estuda Implantodontia recomenda que um programa de cuidados de suporte individualizado seja realizado em todos os pacientes que recebem tratamentos com implantes. Estes cuidados incluem a remoção profissional do biofilme, bem como a remoção autorealizada pelos pacientes, tanto do biofilme sobre implantes como sobre dentes naturais. Para que estes cuidados possam ser adequadamente realizados, as consultas de suporte devem ser agendadas a cada três ou seis meses, com base nas necessidades específicas do paciente e no perfil de risco do mesmo.
O sucesso do tratamento de suporte depende do esforço conjunto do paciente e do profissional. Deve-se avaliar o padrão de higiene oral do paciente, a condição clínica e estabelecer uma frequência de consultas adequadas a cada caso. Entretanto, um dos maiores problemas citados na literatura é a dificuldade na manutenção da regularidade de visitas dos pacientes com problemas peri-implantares no consultório. Sem essa regularidade de consultas, reavaliações, controle de biofilme e instruções de higiene, os benefícios da terapia de suporte não se mantêm no longo prazo.
A não realização da terapia de suporte após todo e qualquer tratamento peri-implantar pode levar ao fracasso do tratamento como um todo. Tão importante quanto as abordagens terapêuticas dos tratamentos da mucosite e da peri-implantite, sejam eles cirúrgicos ou não, está a realização adequada de uma manutenção peri-implantar de suporte, após concluído o tratamento proposto ao paciente. Este suporte é composto basicamente por um controle de biofilme e diagnóstico precoce da evolução da doença.
Referências
1 – Schwarz F, Jepsen S, Obreja K, Galarraga-Vinueza ME, Ramanauskaite A. Surgical therapy of peri-implantitis. Periodontol 2000. 2022 Feb;88(1):145-181. doi: 10.1111/prd.12417.PMID: 35103328 Review
2 – Roccuzzo M, Layton DM, Roccuzzo A, et al. Clinical outcomes of peri-implantitis treatment and supportive care: a systematic review. Clin Oral Implants Res. 2018;29(16):331-350.
“Se andarem nos meus estatutos, guardarem os meus mandamentos e os cumprirem, então eu lhes darei as chuvas na época certa, a terra produzirá a sua colheita e a árvore do campo dará o seu fruto. A debulha dos grãos se estenderá até o tempo da vindima das uvas, e a vindima se estenderá até o tempo da sementeira. Vocês comerão o seu pão à vontade e habitarão em segurança na sua terra.” (Levítico 26:3-5)
Marco Bianchini
Professor associado IV do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia