Data de publicação: 30/10/2020
No que diz respeito à importância dos tecidos moles que circundam os implantes, as evidências científicas disponíveis na literatura são ambíguas e, de certa forma, inconclusivas em relação ao efeito da mucosa queratinizada na saúde dos tecidos peri-implantares a longo prazo. Contudo, mesmo que não haja um consenso na literatura sobre a importância do volume da mucosa ceratinizada ao redor dos implantes, a maioria dos autores afirma que a presença de uma faixa adequada deste tecido com queratina pode apresentar vantagens em relação ao conforto do paciente e à facilidade de autolimpeza na remoção do biofilme bacteriano.
A ambiguidade destes achados científicos reside no fato de que a literatura confirma que a presença de um adequado volume de tecido ceratinizado diminui o acúmulo de biofilme junto às reabilitações implantossuportadas e facilita a autolimpeza, bem como o controle de placa por parte do paciente. Entretanto, as pesquisas não conseguem provar que a ausência deste tecido ceratinizado vai levar ao aparecimento precoce, tanto da mucosite quanto da periodontite, em 100% dos casos. Principalmente se levarmos em consideração o fato de que, se o paciente conseguir realizar a higiene corretamente, mesmo que haja pouca mucosa ceratinizada, as doenças peri-implantares podem não se instalar.
Na clínica diária, os implantodontistas buscam uma conduta para evitar o aparecimento precoce de alterações peri-implantares. Como a placa bacteriana é o principal agente causador da mucosite peri-implantar, e uma mucosite não tratada – na maioria dos casos – acaba evoluindo para uma peri-implantite, parece ser bastante razoável acreditar que uma faixa de mucosa ceratinizada adequada pode prevenir o aparecimento precoce da mucosite e, consequentemente, da peri-implantite.
Além da manutenção da saúde peri-implantar, a preocupação dos implantodontistas se estende também ao fator estético. Neste quesito, parece haver um consenso mundial de que é praticamente impossível reabilitar um caso com implantes sem que haja uma porção adequada de estética rosa, que invariavelmente passa por proporções adequadas de mucosa ceratinizada peri-implantar.
Assim, mesmo sabendo-se que não há evidências científicas suficientes para se provar que a ausência de mucosa ceratinizada seja um fator de risco, tanto para mucosite quanto para a peri-implantite, existem também estudos demonstrando que a ausência ou uma largura reduzida de tecido ceratinizado pode afetar negativamente as medidas de higiene oral, levando ao aparecimento precoce destes problemas peri-implantares. Isto ocorre, principalmente, em pacientes que tenham algum tipo de dificuldade para realizar a higiene oral adequadamente. As Figuras 1 a 5 ilustram um caso onde foi feito um aumento de tecido ceratinizado ao redor de impantes, no momento da cirurgia de segundo estágio.
Diante de tantos dilemas, caberá ao clínico avaliar os seus casos individualmente, levando em consideração não apenas a presença da mucosa ceratinizada, mas também todos os outros fatores que regem uma reabilitação com implantes, para que ela alcance níveis satisfatórios de estética e função.
Depois dessas análises de planejamento, e de acordo com as características próprias de cada paciente, optar por um aumento prévio do tecido ceratinizado antes da colocação dos implantes ou da instalação da prótese pode ser uma medida importante na prevenção e controle de problemas peri-implantares que venham a atingir os tecidos duros e moles que circundam os implantes.
Referências
- Dalago HR, Schuldt Filho G, Rodrigues MA, Renvert S, Bianchini MA. Risk indicators for peri-implantitis. A cross-sectional study with 916 implants. Clin Oral Implants Re 2017;28(2):144-50.
- Ferreira CF, Buttendorf AR, de Souza JG, Dalago H, Guenther SF, Bianchini MA. Prevalence of peri-implant diseases: analyses of associated factors. Eur J Prosthodont Restor Dent 2015;23(4):199-206.
- Araujo MG, Lindhe J. Peri‐implant health. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):36.
- Heitz‐Mayfield LJA, Salvi GE. Peri‐implant mucositis. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):237-45.
- Schwarz F, Derks J, Monje A, Wang HL. Peri‐implantitis. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):246-66.
“E o escriba disse a Jesus: muito bem, mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; e que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. E Jesus, vendo que o escriba havia respondido sabiamente, disse-lhe: não estás longe do reino de Deus.” (Marcos 12,32-34)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia