Cirurgião-dentista, você trabalha fora da cadeira odontológica?

Cirurgião-dentista cadeira odontológica
O tempo de trabalho de um cirurgião-dentista pode ser maior fora do que em cima da cadeira odontológica. Marco Bianchini faz uma reflexão sobre a prática.

Pouca gente sabe, mas um cirurgião-dentista acaba trabalhando mais fora da cadeira odontológica do que em cima dela, realizando procedimentos específicos. Nós, que costumamos passar o dia atendendo pacientes, sabemos que existe muita coisa para ser feita antes e depois de sentar o paciente na cadeira. Contudo, esta visão da nossa profissão não é compartilhada por muitos dos nossos clientes. A maioria dos leigos acha que o cirurgião-dentista só trabalha quando está realizando um procedimento propriamente dito.

Eu, particularmente, logo entendi esta necessidade de trabalhar fora da boca quando ainda era estudante e visitei várias vezes o consultório do meu amigo e colega, o professor doutor Gilberto Arcari. Lá, ele me dizia em tom de brincadeira que o local onde o cirurgião-dentista ganhava o dinheiro era no escritório, e não na cadeira odontológica. Naquela época, eu achava que ele estava brincando com isso, porque era no escritório que os pacientes faziam o pagamento. Com o passar dos anos, eu fui entendendo que é no escritório que um cirurgião-dentista elabora as suas estratégias de atendimento e realiza os planejamentos dos casos.

Na verdade, a realização do procedimento odontológico propriamente dito é a última etapa da sequência completa de um atendimento. Antes disso, podem ser necessárias muitas conversas entre a equipe profissional e o paciente. Ainda mais hoje, quando temos toda a tecnologia digital disponível para aperfeiçoar os nossos tratamentos. Imaginem vocês quanto tempo um cirurgião-dentista passa na frente do computador analisando radiografias, tomografias, fotografias, escaneamentos digitais etc. São horas de dedicação até que tudo esteja devidamente pronto para ser passado para o paciente.

Sem falar que todas essas horas fora da cadeira odontológica devem ser feitas em um tempo recorde, pois o paciente não pode ficar esperando semanas pelo nosso planejamento. O mercado e a concorrência exigem que sejamos breves, a fim de que não venhamos a perder o cliente pela demora em apresentar o nosso plano de tratamento e o consequente orçamento. Assim, muitos de nós acabam fazendo esta atividade fora da boca em um horário além do horário comercial tradicional. São horas a fio em que o nosso trabalho vai invadindo a noite preciosa, período em que deveríamos estar com nossas famílias.

Vale lembrar ainda que, mesmo depois de todo este tempo de planejamento fora da boca, corremos o sério risco do paciente não realizar o tratamento, já que ele pode preferir a concorrência. Quando isto ocorre, ficamos a ver navios e, se não cobramos um bom preço pelas nossas consultas, certamente amargaremos um belo prejuízo.

Na Odontologia atual, não há muito como fugir destas situações. O profissional precisa entender que o trabalho fora da boca é tão importante quanto o trabalho específico na boca dos pacientes. Nós, cirurgiões-dentistas, precisamos nos organizar muito bem para que todos os tipos de atendimento que realizamos, sejam eles na cadeira odontológica ou não, sejam precisamente organizados, a fim de otimizarmos o nosso tempo. Este tipo de organização só é possível quando trabalhamos com uma equipe muito bem treinada e capacitada.

A velocidade da informação do mundo atual, aliada à forte presença da internet em nossas vidas, encurralou os cirurgiões-dentistas tradicionais, que costumavam trabalhar somente quando estavam na cadeira odontológica. A realização de um implante, prótese, lente de contato ou qualquer outro procedimento acaba sendo a última etapa da nossa atividade profissional. Antes disso, o cirurgião-dentista já recebeu uma carga forte de trabalho fora da cadeira odontológica, o que pode ser bem mais difícil que o procedimento clínico que iremos realizar.

“Para os puros, todas as coisas são puras; mas, para os impuros e descrentes, nada é puro. De fato, tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. Eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam; são detestáveis, desobedientes e desqualificados para qualquer boa obra.” (Tito 1:15-16)

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