As doenças peri-implantares foram descritas pela primeira vez em 1993. A partir desta data, têm surgido na literatura diversos estudos com diferentes definições, prevalências e tipos de tratamentos. A maioria destes estudos referem-se a condições inflamatórias associadas ao biofilme bacteriano, pois a microbiota aderida à superfície do implante resulta em uma resposta inflamatória.
Considera-se que existem duas modalidades clínicas de comprometimentos peri-implantares: a mucosite e a peri-implantite. As duas doenças são caracterizadas por inflamação da mucosa ao redor do implante, mas só a peri-implantite apresenta perda de osso de suporte. Clinicamente, ambas podem ser diagnosticadas quando se tem a presença de sinais de inflamação, tais como edema e vermelhidão, acompanhadas de sangramento e/ou supuração à sondagem e, no caso da peri-implantite, com perda progressiva de osso visível radiograficamente.
Existe uma grande quantidade de artigos científicos descrevendo os possíveis tratamentos da mucosite e peri-implantite, por meio de diferentes métodos de remoção de biofilme, instruções de higiene oral, terapias antissépticas ou antibioticoterapia e abordagens cirúrgicas. No entanto, nenhum deles foi eleito como referência ou padrão ouro no tratamento da mucosite e da peri-implantite.
O tratamento da mucosite é baseado na redução dos níveis dos micro- organismos patogênicos pelo procedimento de remoção mecânica do biofilme. A remoção da placa bacteriana pode ser feita de forma mecânica por meio da utilização de ultrassom, curetas, escovas, jatos de água e irrigação com soluções antissépticas. Já no tratamento da peri-implantite, a intervenção cirúrgica tem sido reivindicada como uma terapia mais eficaz, pois fornece um acesso adequado à descontaminação do implante infectado.
A remoção do acúmulo de biofilme e do tecido de granulação ao redor dos implantes com peri-implantite pode reduzir o risco de progressão da doença, uma vez que os fatores locais etiológicos são eliminados. Existem diferentes tipos de intervenções cirúrgicas como implantoplastia, remodelação ossea e regeneração óssea com enxertos ósseos e membranas. O uso dessas técnicas vai depender da configuração do defeito ósseo peri-implantar e da região a ser tratada.
A literatura busca avaliar a condição peri-implantar dos implantes osseointegrados, procurando associar a influência de vários indicadores de risco na prevalência das doenças peri-implantares. A maioria das pesquisas mostra que a doença periodontal prévia e dificuldade de higiene são os principais indicadores de risco. Dentro deste contexto, sabe-se que próteses com sobrecontornos, que impedem a autolimpeza e pacientes susceptíveis a perda óssea alveolar comprometem o sucesso dos implantes no longo prazo. Assim, a maioria das empresas fabricantes de implantes vem investindo na educação continuada dos cirurgiões-dentistas, a fim de que os profissionais sejam mais criteriosos nos procedimentos cirúrgicos e protéticos, além do desenvolvimento de formatos de implantes que minimizem a ocorrência da mucosite e peri-implantite.
Entra ano, sai ano, e temos poucas novidades no tratamento da mucosite e da peri-implantite. Todos nós já sabemos que a prevenção ainda é o melhor caminho. Para tanto, identificar os pacientes de risco e colocá-los em um programa rígido de terapia de suporte é a saída. A cada dia que passa, mais e mais implantes são colocados pelo mundo afora. Na medida em que os número de implantes aumenta, aumenta também os casos de peri-implantite. É um caminho sem volta: quanto mais implantes você coloca, mais peri-implantite vai aprecer. Quem nos livrará disso?
Na verdade, o livramento é enfrentar o problema de frente, esclarecendo aos pacientes que os implantes funcionam muito bem, mas podem dar problemas e ficar doentes também. Isto vai muito além de se planejar os casos adequadamente e de se manter os pacientes sob um controle rígido de biofilme, depois que estes recebem as suas reabilitações implanossuportadas. O livramento principal vem de nós, cirurgiões-dentistas, que precisamos entender e explicar aos nossos pacientes, que os implantes são apenas mais uma modalidade de tratamento, sujeitos a falhas e insucessos como qualquer outra terapia.
Quando estamos na presença de Deus, temos coragem por causa do seguinte: se pedimos alguma coisa de acordo com a sua vontade, temos a certeza de que ele nos ouve.15 Assim sabemos que ele nos ouve quando lhe pedimos alguma coisa. E, como sabemos que isso é verdade, sabemos também que ele nos dá o que lhe pedimos. (1 João 5: 14-15)
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Instagram: @marcoaureliobianchini | @bianchini_odontologia